sábado, 18 de fevereiro de 2012

O jornalismo humorístico e os limites éticos da profissão no caso Barcos


por Luiz Felipe Nunes

Eram 16 de fevereiro, na Academia de futebol do Palmeiras, em São Paulo. O atacante argentino Barcos, concedia mais uma entrevista coletiva, quando, em meio às perguntas rotineiras, a equipe do Globo Esporte paulista muda o foco da conversa, e faz uma comparação entre o jogador e o cantor Zé Ramalho. Barcos não gostou nada a brincadeira, e o assunto rendeu muita polêmica desde então.
Quando o repórter Léo Bianchi parou a entrevista para entregar uma foto do cantor a Barcos, o atacante logo respondeu “filho da p…” e completou “Não estamos aqui para brincadeira. Não interessa se pareço ou não, são coisas que não vem ao caso. Estamos falando de futebol, e creio que isso… é uma brincadeira dos meus companheiros, mas não assim.” Bianchi tenta se defender, e diz que foi um pedido do atacante Maikon Leite. Barcos retrucou e disse “Não importa! E você é o boludo (babaca) que veio me entregar (…) me parece pouco sério da sua parte.”
O caso rapidamente repercurtiu no Twitter, e o que mais impressinou foi a reação do apresentador Tiago leifert e do repórter Leo Bianchi aos comentários dos twitteiros. Leifert disse coisas como “comigo vc nunca vai trabalhar.” a um estudante de jornalismo que criticou a brincadeira, chamou uma seguidora de “tribufu”, retwittou telefones de seguidores, disparou contra todos com palavras como “menininha” e “babacas”, e deixou a entender que os portais que veicularam a notícia são sensacionalistas. Já Bianchi foi mais afiado ainda na falta de humildade. Respondeu a alguns seguidores com “gosta do boluuuuudo, do cabeçuuuuudooo, uiii!!! Rs”, “caguei pra sua opinião! Blocked!!”, “vai chupar prego, carisma tem que ter participante de Big Brother, não to aqui pra te agradar! Blocked and lick some balls!!” e “vc se formou onde? Trabalha onde? Ahhh… Tá! Vai na dele, sabe tudo!! =o)”.
Uma questão importante veio à tona com o acontecimento. Embora a conduta de Barcos seja contestável, pois Tiago, alguns internautas e portais caracterizaram a reação do atleta como exagerada, ou alegam que não passou de uma brincadeira de ambas as partes, o jornalismo-esportivo-humorístico iniciado por Tiago, e que parece ter contagiado toda a Globo gera muita polêmica. Até quando vale brincar no esporte e até quando vale ser profissional?
Sabemos que o esporte levado a sério demais gera problemas, sobretudo a violência. Ódio entre torcedores, que culminam frequentemente em brigas e até em mortes. E o esporte não levado a sério demais, é de tudo positivo? Tratando o esporte como uma simples brincadeira, diversão, como ficam aqueles que vivem do esporte, sejam atletas, e pessoas envolvidas? E onde fica a credibilidade do jornalismo, quando o apresentador resolve dançar as músicas chicletes do momento ao vivo, ou incitar os jogadores a comemorarem um gol feito um joão-bobo? No Brasil, principalmente, a presença do esporte é tão marcante que alteramos significativamente nossas rotinas, pelo futebol, uma cidade inteira pode parar em dia de clássico. Se o esporte mexe tanto com a sociedade brasileira, a ponto de criar uma identidade nacional para todo o mundo, vale a pena tratá-lo como mero divertimento?
Outra questão muito importante presente no caso: desde quando um jornalista pode se dar ao luxo de não importar com a opinião do leitor, espectador ou internauta? Não estamos aqui para crucificar ninguém, por isso dizemos que alguns twitteiros realmente faltaram com respeito aos jornalistas Leifert e Bianchi, usando palavrões e ofendendo-os, mas por onde anda o lado profissional deles? E pretendemos nem entrar no mérito das certeiradas dadas em “comigo vc nunca vai trabalhar” e “vc se formou onde? Trabalha onde? Ahhh… Tá! Vai na dele, sabe tudo!! =o)”.
O fato é que existe um limite entre o profissional que transmite a notícia, e o torcedor do dia-a-dia, que caçoa o amigo do time rival, que a equipe de esporte da Globo tenta, às vezes ridiculamente (com todo o respeito), ultrapassá-lo. Nosso papel é dar os dois lados da história, para que o leitor reflita e tome uma posição. De fato, esporte é diversão, brincadeira, provocação entre torcedores, e isso cabe perfeitamente num jornalismo descompromissado, sem nunca fugir do profissionalismo. Porém, o esporte também envolve paixão, sentimento dos torcedores, e assuntos que merecem serem levados a sério.

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