quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O superclássico de uma torcida só




Na última terça-feira, dia 21, foi decidido, em uma reunião com representantes da Polícia Militar, Federação Mineira de Futebol, Ministério Público e de Atlético e Cruzeiro, que o clássico mineiro disputado domingo, no Independência, poderia ser assistido apenas por uma torcida. Como o mando do jogo é do Cruzeiro, a torcida que vai ao Independência domingo é a cruzeirense. A medida também vale para o clássico no returno, quando o Atlético será o mandante e terá a exclusividade nas arquibancadas.

Mas, mais do que discutir quem tem a razão em determinar torcida única no jogo, é importante analisar atentamente o que cerca o futebol fora da linha branca.

Desde junho de 2010, a grande casa do futebol mineiro, o Mineirão, está fechado para as reformas necessárias para a Copa do Mundo de 2014. Desde então, os times da capital se mudaram provisoriamente para Sete Lagoas, e o resultado, todos sabemos, não foi nada bom. O melhor mineiro na Série A de 2011 foi o Atlético, que ficou na 15ª posição.

Além da baixa no desempenho em campo, o torcedor de BH perdeu contato com seus times. A cidade ficou sem futebol por quase dois anos, e desde então começaram os clássicos de torcida única.

Desde 2010 não sabemos o que é assistir um Atlético x Cruzeiro com a briga do bem nas arquibancadas, de quem faz a festa mais bonita e de quem canta mais alto.

E isso é culpa da polícia?

Por um lado, sim. A polícia é o órgão do Estado que tem a única finalidade de garantir a segurança e o bem estar da população, combatendo aqueles e aquilo que é enquadrado na lei como ilegal e perigoso. Se a polícia atesta que não pode garantir a segurança de duas torcidas rivais na chegada e saída de um estádio, algo está errado.

Não é de hoje que nos deparamos com uma polícia desestruturada, preconceituosa e mal preparada para cumprir suas funções, e a culpa disso é do Estado, que capta nosso dinheiro na forma de impostos e que deveriam ser investidos, entre outras coisas, em uma polícia eficiente e que garantisse nossos direitos.

Mas a culpa não é só da polícia e do Estado. Os torcedores bem que ajudam a chegar nessa situação em que estamos hoje.

Qual atleticano ou cruzeirense não tem nenhum amigo torcedor do time rival com quem, durante a semana na faculdade, no trabalho ou onde for, brincamos, fazemos as gozações do futebol civilizadamente?

E por que não conseguimos nos manter civilizados em um jogo de futebol!?

Há anos vemos a decadência do respeito e do senso de humanidade no esporte, principalmente no futebol. O simples fato de que duas torcidas tenham que ser mantidas separadas em um estádio, por grades de proteção pontiagudas, equipes enormes de policiais armados, por si só já constitui um absurdo. Quem de nós precisa ser mantido afastado de torcedores do time rival no trabalho para evitar brigas? NINGUÉM. Mas no estádio é necessário. Infelizmente. Igual donos fazem com seus bichos para evitar brigas.

Já não bastasse a necessidade de enjaular torcedores no estádio para evitar brigas, tornou-se necessário dividir a cidade para que esses mesmos torcedores não possam cruzar o mesmo caminho. Um pensamento como 'não podemos dividir o mesmo lugar no estádio e nem nas avenidas'.

Tornar necessário que uma torcida fique longe do estádio é o pior estágio que conseguimos chegar, tanto em incapacidade do Estado e da polícia em nos manter seguros, quanto na educação dos torcedores durante os jogos. Essa medida de separar torcidas das arquibancadas pois elas podem se atacar vai contra tudo que aprendemos sobre o que representa o esporte e contra tudo que aprendemos sobre evolução da espécie humana.

Ano que vem sediaremos uma Copa das Confederações e daqui a dois anos, uma Copa do Mundo. Durante um mês seremos perfeitamente maquiados para o mundo como povo civilizado que vive em paz com o rival na torcida, todos juntos, misturados, independente da camisa que vestimos. Resta esperar que a modernidade dos nossos estádios após 2014 seja acompanhada pela modernidade no pensamento de todos nós sobre o que é torcer e sobre o que é rivalidade.

por Luiz Felipe Nunes

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