No ano passado, vimos a África ser o centro das atenções mundiais durante os meses de junho e julho, quando ocorreu a primeira Copa do Mundo FIFA em solo africano. É vero dizer que muitos achavam que os africanos não seriam capazes de sediar um evento de tamanha importância, achavam que a África do Sul, a maior economia do continente, seria um fiasco diante dos olhares do mundo inteiro.
Pois então, um ano se passou e aqui estamos nós. O Brasil mais uma vez amarelou, a Argentina foi detonada, a Alemanha ficou no "quase" novamente e, finalmente a Espanha desencantou e conseguiu seu primeiro título mundial. Incrível, não? E quando assistimos às reportagens globais sobre o “País da Copa de 2010”, vemos um país desenvolvido, feliz, como se a Copa tivesse erradicado toda a miséria e deixado a África do Sul um país urbanizado, sem racismo e sem violência num simples estalar de dedos.
Reza a lenda que a Copa do Mundo muda o país, entretanto, o que vimos na África do Sul naquelas quatro semanas de euforia foi uma falsa mudança. Toda aquela infra-estrutura, aquela rede de transporte público e policiamento funcionaram somente durante o período do evento. A África ainda continua num estado calamitoso. Já foi pior, sim, mas não considero como desenvolvida uma cidade na qual o transporte público e comércio param às seis da tarde devido à enorme violência urbana. Quando vemos aquele trem-bala que construíram em Johanesburgo, pensamos “Nossa, a África agora se desenvolveu.”. Mentira! A televisão é sensacionalista. Aquele majestoso trem-bala só funciona mesmo na própria Johanesburgo, sem conexão nenhuma com a Cidade do Cabo, o pólo turístico e mais importante do país. Aliás, se você estiver na Cidade do Cabo e quiser ir a Johanesburgo, você será obrigado a pagar 150 dólares num vôo doméstico de duas horas de duração.
trem-bala em Johanesburgo
Pois então, falemos da Cidade do Cabo, que é uma cidade suntuosa, por sinal, com pessoas acolhedoras e paisagens naturais de tirar o fôlego, e seu estádio,o Green Point Arena, foi palco de jogos inesquecíveis – a citar, a goleada de 4 a 0 da Alemanha sobre a Argentina, que para mim, foi o apogeu de 2010. Entretanto, embora a cidade ainda respire um pouco do clima da Copa, esta não trouxe muitas melhorias significativas para a cidade. O aeroporto reformado é magnífico, para o qual podemos tirar o chapéu, mas o lugar não tem ônibus circulando frequentemente, pois o principal meio de transporte é van. Esta ainda termina seus serviços às 18:00h. Isto é inaceitável para uma cidade que vive de turismo. E o motivo? Os moradores dizem que a violência urbana na cidade é enorme e tudo, eu disse TUDO, incluindo comércio, feira, shoppings e supermercados. Todos fecham no mesmo horário. O meio de transporte alternativo de menor custo é o trem, que vai para locais mais afastados do centro. Este para às 19:00. Ou seja, se você estiver na Cidade do Cabo e quiser ir ao parque de diversões, pretendendo ficar até anoitecer, você não poderá lanchar no McDonald’s, porque senão perderá o horário do trem. E o único meio de transporte que resta é o táxi, que obviamente, arranca o couro dos passageiros. E o estádio? Virou museu. Fica aberto todos os dias, até as 17:00h, admitindo visitas mediante agendamento prévio.
Fico triste pela população, que apostou na Copa para melhorias na cidade. Pode até ter ocorrido algumas, entretanto, há muito ainda a se fazer. Afinal de contas, eles merecem um país muito melhor do que eles têm agora.